.. Não sabemos muito, nem o suficiente, de Lord Bacon, deste primeiro realista em todo o sentido da palavra, para saber tudo quanto fez, o que quis, e o que viveu a sós consigo... Ora vão para o diabo, senhores críticos! Se, por exemplo, eu tivesse atribuído o meu
Zaratustra a outro escritor, por exemplo a Ricardo Wagner, a perspicácia de dois milénios não bastaria para adivinhar que o autor de Humano, demasiado humano era também o visionário do Zaratustra...
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Ao falar da fase repousante da minha vida, é-me necessário exprimir uma palavra de gratidão para o que mais profunda e cordialmente me deu alívio e conforto. Foram sem dúvida as últimas relações que mantive com Ricardo Wagner. Sem custo renuncio a todas as outras minhas relações com os homens; por nenhum preço, porém, quereria riscar da minha vida os dias de Tribschen, dias de serenas confidências, de acordos sublimes, de momentos profundas... Não sei o que se passou entre outros e Wagner; no nosso céu nunca houve uma nuvem... E com isso volto de novo a França: não tenho argumentos, tenho só um ricto de desprezo nos lábios contra os wagnerianos e «hoc genus omne» que supõem homenagear Wagner tornando-o semelhante a eles próprios... E visto que, nos meus mais profundos instintos, sou estranho a tudo quanto é germânico, de tal maneira que basta ter um alemão perto de mim para a digestão se me atrasar, foi no meu primeiro contacto com Wagner que pela primeira vez na minha vida respirei desafogadamente; estimava-o e venerava-o como estrangeiro, como contraste e vivo protesto contra todas as «virtudes alemãs». Nós, que 'fomos crianças na atmosfera mefítica dos anos de 1850 a 1860 somos necessariamente pessimistas em relação ao conceito de «alemão»: não podemos ser senão ravolucionários e nunca aceitaremos um estado de coisas em que dominem os hipócritas.