Wagner, sendo o antídoto de tudo quanto é por excelência alemão, é u:m veneno, não o nego... A partir do momento em que houve uma partitura de Tristão para piano (muito obrigado, senhor Bulow!) tornei-me wagneriano. As obras anteriores pareciam-me estar muito abaixo de mim, eram ainda demasiado vulgares, demasiado alemãs... Hoje, procuro em vão em todas as artes uma obra que iguale Tristão na sedução fascinante, na espantosa e suave infinitude. Todas as estranhas criações de Leonardo de Vinci perdem o encanto mal se ouvem os primeiros compassos de Tristão. Esta obra é incontestavelmente o
nec plus ultra de Wagner; depois dela, os
Mestres Cantores e
O Anel são retrocessos. Ser mais saudável, para uma natureza como a de Wagner, equivale a um retrocesso...
Creio ter constituído felicidade sem par o ter, eu vívido no tempo que se me adequava, ter vivido precisamente entre os alemães para poder sentir a maravilha: a tal ponto há em mim a curiosidade de psicólogo! O mundo é estreito para aquele que nunca esteve bastante doente para poder apreciar essa volúpia celeste! ]f: lícito, e quase imperativo; empregar aqui uma expressão mística.
Creio saber melhor que ninguém de que prodígios Wagner é capaz: a evocação de cinquenta universos de estranhos encantos que só ele, e mais ninguém, teve asas para alcançar. E, sendo tal qual sou, bastante forte para aproveitar tudo quanto haja de mais problemático e perigoso, para com isso me, tornar mais forte, considero Wagner o maior benfeitor da minha vida. Uniu-nos o termos sofrido os dois profundamente, o termos Sofrido um pelo outro em grau superior àquele que os homens deste século podem suportar. Este, vínculo manter-se-á no porvir, e para sempre, entre os nossos nomes.