.. Não só fala de outro modo, é outro...
Agora vou sozinho. Oh! Meus discípulos! Também vós ides sozinhos! Assim o quero.
Afastai-vos de mim e acautelai-vos de Zaratustra!
Mais ainda; envergonhai-vos dele! Talvez vos haja enganado.
O homem que busca o conhecimento não só deve amar os seus inimigos, mas deve também poder odiar os seus amigos. Recompensa mal um mestre quem se contenta de ser discípulo. E por que não ousais destroçar a minha grinalda?
Venerais-me, Pois bem, que aconteceria se um dia a vossa veneração sucumbisse? Tende cuidado, não vos esmague uma coluna do templo!
Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra? Sais meus crentes? Mas que importam todos os crentes?
Porque não vos tínheis procurado a vós próprios, me encontrastes. Assim fazem todos os crentes: por isso qualquer fé vale tão pouco.
Agora, vos digo, se me perderdes a mim, encontrar-vos-ei a vós, e só quando todos me tiverdes renegado, voltarei, surgindo entre vós...»
Neste dia perfeito em que tudo amadurece, e não só as uvas começam a dourar, um raio de sol cai sobre a minha vida; olho para trás de mim, olho para diante, e nunca vi tantas e tão boas coisas ao mesmo tempo. Não foi em vão que hoje sepultei o quadragésimo quarto ano da minha vida; tinha o direito de sepultá-lo; o que nele havia de verdadeiramente vivo, está salvo, é imortal. O primeiro livro da Transmutação de todos os valores, os Cantos de Zaratustra, o Crepúsculo dos Ídolos, a minha tentativa de filosofar às marteladas, tudo isto foi um dom deste ano, e, dizendo mais propriamente, do seu último trimestre! Como não estar reconhecido a toda a minha vida? Eis por que me conto a mim mesmo o que vivi.