Sangue Azul - Cap. 3: 3 Pág. 20 / 287

- Sim. É-me, em dois aspectos, ofensiva, tenho contra ela dois fortes motivos de desaprovação. Primeiro, por ser o meio de conduzir pessoas de nascimento obscuro a indevida distinção e elevar homens a honrarias que os seus pais e avós nunca sequer sonharam, e, segundo, porque reduz a juventude e o vigor de um homem de uma maneira horrível: um marinheiro torna-se velho mais depressa do que qualquer outro homem, eu próprio observei isso durante toda a minha vida. Na Armada, mais do que em qualquer outra carreira, um homem corre maior risco de ser insultado pela promoção de alguém com cujo pai o seu talvez tivesse desdenhado falar, assim como de se tornar ele próprio, prematuramente, objecto de repulsa. Um dia, na Primavera passada, quando estava na cidade, encontrei-me na companhia de dois homens que constituem exemplos notáveis do que estou a dizer: tive de dar passagem a Lord St. Ives, cujo pai todos nós sabemos ter sido um cura rural, sem ter sequer pão para a boca, e a um certo almirante Baldwin, um personagem com o aspecto mais deplorável que podem imaginar, de rosto cor de mogno áspero e rugoso no mais alto grau, todo sulcos e tugas, meia dúzia de cabelos grisalhos de um lado e nada mais do que uns borrifos de pó no alto da cabeça. «Meu Deus, quem é aquele velho?», perguntei a um amigo meu que estava ali perto (Sir Basil Morley). «Velho!», exclamou Sir Basil. «É o almirante Baldwin. Que idade calcula que ele tem?» «Sessenta», alvitrei, «ou talvez sessenta e dois.» «Quarenta», respondeu-me Sir Basil, «quarenta, e nada mais do que isso.» Imaginem o meu espanto; não esquecerei facilmente o almirante Baldwin. Nunca vi um exemplo tão desgraçado do que a vida no mar é capaz de fazer. Mas, em certa medida, sei que acontece o mesmo a todos eles: andam sempre em bolandas, expostos a todos os climas e a todas as intempéries, até deixarem de estar em condições de serem vistos.





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