Quando o coche chegou diante da morada indica da, o nevoeiro dissipou-se ligeiramente, deixando entrever uma rua sórdida, uma taberna, uma casa de pasto, uma loja de revistas e refeições baratas, muitas crianças maltrapilhas amontoadas nas soleiras das portas e mulheres de diversas nacionalidades, que saíam, de chave nas mãos, para tomarem o seu copo matinal; logo de seguida, o nevoeiro voltou a cair sobre aquela parte da cidade, pardo como ocre, isolando-o das suas ignóbeis cercanias. Aquela era a residência do protegido de Henry Jekyll; de um homem que era herdeiro de um quarto de milhão de libras esterlinas.
Uma mulher com rosto de marfim e os cabelos prateados abriu a porta. Tinha um semblante demoníaco, amaciado pela hipocrisia; mas os seus modos eram excelentes. Confirmou que era a casa do Sr. Hyde, mas que este não estava; tinha chegado muito tarde naquela noite e voltara a sair havia menos de uma hora, facto que nada tinha de estranho; os seus hábitos eram muito irregulares e ausentava-se com frequência; por exemplo, até à véspera, tinham passado quase dois meses sem que o tivesse visto.
- Pois muito bem, então queremos ver os aposentos dele - disse o advogado; e, quando a mulher se preparava para dizer que era impossível, acrescentou: - Devo dizer-lhe que este senhor é o Inspector Newcomen, da Scotland Yard.
Um clarão de alegria odiosa cobriu o rosto da mulher.
- Ah, está metido em sarilhos! Que foi que ele fez?
O Sr. Utterson e o inspector entreolharam-se.
- Não parece gozar de grande popularidade - observou o último.