O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 93 / 102

O problema do meu comportamento estava resolvido; a partir daquele momento, Hyde era impossível; quer eu quisesse quer não, estava agora confinado à melhor parte da minha existência; ah, que alegria sentia só de pensar nisso! Com que voluntária humildade voltava a aceitar as restrições da vida natural! Com que sincera renúncia trancava a porta por onde tantas vezes entrara e saíra, e esmagava a chave sob os meus pés!

No dia seguinte, chegou a notícia de que o assassínio fora testemunhado, que a culpa de Hyde estava patente ao mundo inteiro e que a vítima era um homem que gozava de elevada estima pública. Não só se tratara de um crime, como também de uma trágica loucura. Creio que fiquei contente por sabê-lo; creio que me regozijei por saber que os meus melhores impulsos eram reforçados e protegidos pelos horrores do cadafalso. Jekyll era agora a minha cidadela de refúgio; se deixasse Hyde espreitar por um único instante, logo as mãos de todos os homens se ergueriam para o prender e chacinar.

Decidi redimir o passado através da conduta futura; e posso garantir com sinceridade que a minha decisão produziu algum bem. Tu próprio sabes como, nos últimos meses do ano passado, me esforcei seriamente para aliviar o sofrimento; sabes que muito foi feito em prol de outrem e que os dias passavam serenamente, quase com felicidade. Em boa verdade, também não posso dizer que me cansei dessa vida benéfica e inocente; pelo contrário, creio que a gozei em maior plenitude no dia-a-dia.