As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 5: O Ritual de Musgrave Pág. 103 / 274

Era na verdade o descendente de uma das famílias mais antigas do reino, embora viesse de um irmão mais novo que se separara dos Musgraves do norte, no século XVI, e se estabelecera no Sussex ocidental, onde o solar de Hurlstone é talvez o edifício habitado mais antigo do condado. Qualquer coisa do sítio onde nascera parecia colada ao homem, e nunca olhei para o seu rosto pálido e vivo, ou para a posição da sua cabeça, sem o associar aos arcos cinzentos, às janelas de mainéis e a todos os restos veneráveis do domínio feudal. Conversávamos bastantes vezes e recordo que mais de uma vez ele expressou interesse pelos meus métodos de observação e dedução.

» Ia para quatro anos que nada sabia dele, até que uma manhã entrou na minha sala da Montague Street. Estava pouco mudado, trajava como um jovem da alta sociedade - ele fora sempre um bocado janota - e mantinha a mesma maneira calma e suave que anteriormente o distinguira.

«- Como vão as coisas, Musgrave?» - perguntei, depois de cordialmente apertarmos as mãos.

«- Provavelmente ouviu falar da morte do meu pobre pai» respondeu. «- Partiu deste mundo há dois anos. Desde então tenho tido, é claro, as propriedades de Hurlstone para dirigir, e também, como membro da Câmara pelo meu distrito, tenho tido a vida muito ocupada; mas fui informado, Holmes, de que você está pondo em prática aqueles poderes com que nos costumava assombrar.»

«- Sim,» - disse - «resolvi viver das minhas faculdades.»

«- Estou contente por o ouvir dizer isso, porque neste momento o seu conselho me seria imensamente valioso. Temos tido em Hurlstone coisas muito estranhas, e a polícia não foi capaz de esclarecer o assunto. É realmente um caso extraordinário e inexplicável.





Os capítulos deste livro