'- Uma quinzena, diga pelo menos uma quinzena.'
«'- Uma semana,' - repeti - 'e pode julgar-se tratado com muita indulgência.'
«Ele arrastou-se para fora, cabisbaixo, como um homem angustiado, enquanto eu apaguei a luz e voltei ao quarto.
«Durante dois dias Brunton foi muito assíduo no desempenho dos seus deveres. Não fiz nenhuma alusão ao que se tinha passado e esperei, com certa curiosidade, para ver como iria ocultar a sua desgraça. Na terceira manhã, ele não apareceu, como de costume, depois da refeição matinal, para receber as minhas instruções para o dia. Quando deixei a sala de jantar, aconteceu-me encontrar Raquel, a criada. Já lhe contei que ela se restabelecera havia pouco tempo de uma doença e parecia tão pálida e lívida que a censurei por andar a trabalhar.
«'- Você devia estar na cama' - disse-lhe. '- Volte às suas obrigações quando estiver mais forte.'
«Ela olhou para mim com uma expressão tão estranha que comecei a suspeitar que o seu cérebro estivesse afectado.
«'- Estou bastante forte, Sr. Musgrave' - disse ela.
«'- Veremos o que diz o médico' - respondi. '- Você agora vai descansar e quando descer diga ao Brunton que o quero ver.'
«'- O mordomo foi-se embora' - respondeu.
«'- Foi-se embora? Para onde?
«'- Foi-se embora. Ninguém o viu. Não está no seu quarto. Oh!, sim, foi-se, foi-se!'
«Caiu contra a parede num desvario de risos, enquanto eu, horrorizado com aquele repentino ataque histérico, tocava à campainha para pedir auxílio. A rapariga foi reconduzida ao seu quarto a gritar e a soluçar, e entretanto eu inquiria a respeito de Brunton. Não restava dúvida de que tinha desaparecido. A sua cama não fora usada, não tinha sido visto desde a noite anterior, quando se retirou para os seus aposentos, e, todavia, era difícil saber como podia ter deixado a casa, com todas as portas e janelas encontradas fechadas de manhã.