Uma vez explicada, a coisa pareceu-me a própria simplicidade, como todo o raciocínio de Holmes. Ele leu-me o pensamento e o seu sorriso teve um laivo de amargura.
- Receio que me revele a mim próprio quando explico - disse. - Os resultados sem causa são muito mais impressionantes. Então, está pronto a vir comigo a Birmingham?
- Certamente. Qual é o assunto?
- Contar-lhe-ei no comboio. O meu cliente está lá fora num carro de quatro rodas. Pode vir já?
- Só um instante.
Rabisquei uma nota para o meu vizinho, precipitei-me escada acima para explicar o caso à minha mulher e juntei-me a Holmes no degrau da porta.
- O seu vizinho é médico? - disse, indicando com a cabeça a placa de bronze.
- É. Comprou uma clínica como eu.
- Um velho estabelecimento?
- Exactamente como o meu. Ambas têm estado aqui desde que foram construídas as casas.
- Então você apanhou a melhor das duas.
- Penso que sim. Mas como sabe?
- Pelos degraus, meu rapaz. Os seus estão gastos três polegadas mais do que os dele. Mas aquele cavalheiro no carro é o meu cliente, Sr. Hall Pycroft. Permita-me que lho apresente. Chicoteie os seus cavalos, cocheiro, estamos exactamente na hora do comboio.
O homem com que deparei era um jovem de bela constituição, tez fresca, fisionomia franca e honesta e um ligeiro bigode amarelo e encrespado. Usava uma cartola luzidia e um fato de um preto sóbrio, o que dava a entender que era um jovem da City; da chamada classe cockney (londrino), a qual fornece os nossos regimentos voluntários de craques e da qual saem mais atletas e desportistas exímios do que de qualquer outro agrupamento de homens destas ilhas. O seu rosto redondo e corado estava naturalmente cheio de jovialidade, mas os cantos da boca pareceram-me caídos, com uma expressão de tristeza meio cómica.