'- Então, talvez se lembre de alguma coisa original a esse respeito?
'- Qual era então?'
'- Eu tinha quase um quarto de milhão, não tinha?' - prosseguiu. '- Assim diziam.
'- E o dinheiro foi descoberto, hã?
'- Não.'
'- Onde supõe que esteja o saldo?' - perguntou então.
'- Não faço a menor ideia' - disse-lhe eu.
'- Aqui mesmo, entre o meu indicador e o polegar!' - gritou ele. '- Juro que tenho mais libras no meu nome do que você cabelos na cabeça. Quem tem dinheiro e sabe administrá-lo e distribuí-lo, pode fazer alguma coisa! Ora, acha então que um homem que pode fazer alguma coisa vai gastar as calças sentado numa prisão fedorenta, no porão velho e bolorento de um costeiro chinês, cheio de baratas e ratos, de tripa vazia? Não, meu caro! Pode ficar certo disso. Pode confiar nele. Pode beijar a Bíblia porque esse homem há-de conduzi-lo com segurança.'
Era essa a sua maneira de falar, e a princípio pensei que nada significava. Mas pouco depois, quando me pôs à prova e me jurou com toda a solenidade possível, fui levado a perceber que tinha realmente um plano para se apossar do comando do navio. Uma dúzia de prisioneiros preparara o plano antes mesmo do embarque: Prendergast era o líder, e o seu dinheiro, o meio principal.
'- Tenho um sócio - disse -, um homem raro e bom, tão fiel como a coronha ao cano. Já conseguiu os cobres, e tem-nos. E onde pensa que está ele neste momento? Ora essa, é o capelão - sim, o capelão, sem tirar nem pôr! Embarcou com uma capa preta, os papéis em ordem e com bastante dinheiro na pasta para comprar tudo, desde a quilha até ao mastro principal. A tripulação é o seu corpo e alma. Pôde comprá-la a tanto por grosa, com desconto por ser com dinheiro à vista.
