O capitão, os outros dois pilotos, os dois carcereiros, o tenente Martins, os seus dezoito soldados e o médico, era tudo o que tínhamos contra nós.
Todavia, mesmo seguros como estávamos, tínhamos resolvido não desprezar nenhuma precaução e fazer o nosso ataque repentinamente, à noite. Ele deu-se, porém, mais depressa do que esperávamos, e da maneira seguinte:
Uma noite, mais ou menos três semanas depois da nossa partida, o médico desceu para ver um dos prisioneiros que estava doente, e, ao meter a mão no fundo da tarimba, apalpou os contornos de uma pistola. Se tivesse guardado silêncio, teria abafado tudo; mas era um indivíduo nervoso, deu um grito de surpresa e ficou pálido, de modo que o doente descobriu num instante o que ele agarrara. Foi amordaçado antes de dar o alarme e amarrado em cima da tarimba. Ele destrancara a porta que dá para o convés e saímos precipitados. As duas sentinelas foram logo abatidas a tiro, e o mesmo aconteceu ao cabo que veio a correr para ver o que acontecia. Havia mais dois soldados à porta da sala dos oficiais; as suas armas pareciam estar descarregadas, porque nunca atiravam, e foram alvejados enquanto tentavam fixar as suas baionetas. Precipitámo-nos então para a cabina do capitão. Mas quando abrimos com ímpeto a porta, veio de lá de dentro uma explosão: ali estava a cabeça do capitão tombada sobre o mapa do Atlântico pregado à mesa, e o capelão, com a pistola ainda a fumegar, permanecia de pé ao seu lado. Os dois pilotos tinham sido agarrados pela turba, e tudo parecia liquidado.
A sala dos oficiais ficava perto da cabina e aí nos reunimos, caindo nos sofás, a falar ao mesmo tempo, porque estávamos delirantes com a sensação de sermos livres de novo.