Não assuma esse ar impaciente, pois asseguro-lhe que mesmo uma descrição tão simples como esta consegue despertar no leitor uma espécie de imagem viva do passado. Permita-me que lhe leia um trecho.
«Construída no quinto ano do reinado de Jaime I e surgida dos alicerces de um edifício muito mais antigo, a Mansão de Birlstone oferece um dos mais belos exemplos que ainda restam de residência fortificada da era jacobita...»
- Está a brincar connosco, Mr. Holmes!
- Calma, Mac! É o primeiro sinal de cólera que noto em si. Pois bem, não continuarei a ler palavra por palavra, já que isto o aborrece. Entretanto, quando lhe disser que há um relato da tomada do lugar por um coronel, enviado pelo Parlamento, em 1644; de como Carlos II aí se ocultou, por diversos dias, durante a Guerra Civil e, finalmente, da visita que ali fez Jorge II, terá de admitir que nessa venerável mansão se desenrolaram factos dignos de nota.
- Não duvido, Mr. Holmes; mas esses factos não nos interessam.
- Julga isso? Uma das coisas essenciais na nossa profissão, meu caro Mac, é uma ampla visão do problema. O entrelaçamento de ideias e uma boa bagagem de conhecimentos múltiplos oferecem sempre extraordinário interesse. Você vai desculpar estas observações da parte de quem, sendo mero diletante do crime é, contudo, um pouco mais velho e talvez um pouco mais experiente.
- Sou o primeiro a reconhecê-lo - exclamou o polícia. - O senhor alcança sempre os seus objectivos, mas faz sempre um rodeio dos diabos.
- Bem, deixemos a história antiga e passemos aos factos actuais. Como já disse, estive ontem à noite na mansão. Não me avistei com Mr. Barker, nem com Mrs. Douglas. Pareceu-me inútil incomodá-los, mas tive o prazer de saber que esta última não se mostrava pesarosa, e que, pelo contrário, tinha jantado com excelente apetite.