Parece mais um fantasma do que uma mulher. Então, vai-se embora?
- Sim vou-me embora - disse Jefferson Hope, que se levantara. O seu rosto podia ter sido esculpido de mármore tão dura e rígida era a sua expressão, enquanto os olhos resplandeciam com um brilho sinistro.
- Para onde vai?
- Não interessa - respondeu ele; pondo a arma em bandoleira, afastou-se com grandes passadas pela ravina abaixo, desaparecendo no coração das montanhas na direcção dos covis dos animais selvagens. Entre eles não havia nenhum tão feroz e perigoso como ele.
A profecia do mórmone concretizou-se. Quer tivesse sido a morte terrível do pai ou as consequências de um casamento abominável que fora obrigada a contrair, a pobre Lucy não voltou a levantar a cabeça; foi definhando e morreu no espaço de um mês. O marido alcoólico, que casara com ela principalmente por causa da riqueza de John Ferrier, não parecia muito afectado com a morte desta; mas as suas outras mulheres choraram-na e ficaram com ela na noite anterior ao enterro, como é o costume dos mórmones. Ao romper do dia haviam-se juntado à volta do ataúde, quando, para sua surpresa e medo inexprimíveis, a porta se abriu e um homem com um ar selvagem, batido pelas intempéries e vestido de andrajos, entrou na sala com grandes passadas. Sem um olhar nem uma palavra às mulheres que estavam aninhadas, aproximou-se da figura branca e silenciosa que outrora albergara a alma pura de Lucy Ferrier. Curvou-se sobre ela, beijou-lhe reverentemente a testa fria e, depois, agarrou-lhe de repente a mão, tirando-lhe a aliança do dedo.
- Ela não será enterrada com isto - gritou ele com rispidez. Depois, antes que alguém pudesse dar sinal de alarme, saltou as escadas e desapareceu. O episódio foi tão estranho e tão breve que aqueles que o presenciaram quase não podiam acreditar nele nem convencer as outras pessoas, se não fosse o facto incontestável do anel de ouro, que a marcava como tendo sido uma noiva, ter desaparecido.
