O leitor pode considerar-me um intrometido inveterado quando confesso o quanto este homem estimulou a minha curiosidade e quantas vezes tentei levar a melhor sobre a reserva que ele revelava em relação a tudo que lhe dizia respeito. Todavia, antes de emitir uma opinião, recorde-se quão inútil era a minha vida e o pouco que havia que me despertasse a atenção. A saúde não permitia que me aventurasse a sair, a não ser que o tempo estivesse excepcionalmente bom e não tinha amigos que me pudessem convidar quebrando a monotonia da minha vida diária. Nestas circunstâncias, acolhi entusiasticamente o pequeno mistério que envolvia o meu companheiro, e passava a maior parte do tempo a procurar desvendá-lo.
Ele não estava a estudar Medicina. Ele mesmo, em resposta a uma pergunta, confirmara a opinião de Stamford. Nem parecia ter frequentado um curso com assiduidade que o pudesse preparar para um grau em ciências ou qualquer outra porta reconhecida que lhe desse acesso ao mundo do saber. No entanto, o seu zelo por certos estudos era notável e, dentro dos limites excêntricos, a sua erudição era tão vasta e circunstanciada que as observações dele me assombravam bastante. Certamente que nenhum homem trabalharia com tanto afinco nem obteria informações tão precisas se não tivesse um objectivo definido em vista. Os leitores sem método raramente se salientam pelo rigor do seu conhecimento.