Vigiava-os de manhã cedo e de madrugada, mas nunca tive uma oportunidade; não desanimei porém, porque alguma coisa me dizia que a hora estava prestes a chegar. O meu único receio era que isto no meu peito rebentasse um pouco cedo de mais e que o trabalho ficasse por fazer.
»Finalmente, uma noite, quando subia e descia o Torquay Terrace, assim se chamava a rua onde estavam hospedados, vi parar um cabriolé à porta deles. Passado pouco tempo trouxeram alguma bagagem, depois saiu Drebber e Stangerson, e partiram. Chicoteei o meu cavalo e não os perdi de vista, sentindo-me muito inquieto, porque estava com medo que fossem mudar de residência. Saíram na estação de Euston; deixei um rapaz a segurar o meu cavalo e segui-os até à plataforma. Ouviu-os perguntar pelo comboio de Liverpool, e o guarda respondeu que tinha partido um naquele momento e que durante algumas horas não haveria outro. Stangerson parecia incomodado com aquilo, mas Drebber, por seu lado, ficara bastante satisfeito. No meio da confusão, aproximei-me tanto deles que consegui ouvir todas as palavras que trocaram. Drebber disse que tinha um pequeno assunto particular a tratar e que, se o outro esperasse por ele, viria ter de novo com ele num curto espaço de tempo. O companheiro discutiu com ele e recordou-lhe que tinham decidido não se separar. Drebber respondeu que o assunto era delicado e que devia ir sozinho. Não consegui perceber o que Stangerson respondera àquilo, mas o outro desatou a praguejar e lembrou-lhe que ele não passava de um criado a quem pagava, e que não ousasse dar-lhe ordens. Por causa disto o secretário chegou à conclusão de que era um emprego mau, e limitou-se a dizer que se ele perdesse o último comboio deveria ir ter com ele ao Halliday's Private Hotel, ao que Drebber respondeu que estaria na plataforma antes das onze, e saiu da estação.
»Chegara finalmente o momento por que esperara tanto tempo. Os meus inimigos estavam à minha mercê. Juntos podiam proteger-se um ao outro, mas separados estavam à minha mercê.
