- Ele não achará isso demasiado arriscado?
- De modo nenhum. Se o meu parecer sobre o caso está correcto, e tenho todos os motivos para crer que está, este homem preferiria arriscar qualquer coisa a perder o anel. De acordo com a minha teoria, ele deixou-o cair quando se debruçou sobre o corpo de Drebber e, na altura, não se apercebeu. Depois de sair da casa, deu pela falta dele e voltou atrás a correr, mas verificou que o polícia o tinha em sua posse, devido à sua própria loucura em deixar a vela acesa. Teve de fingir que estava embriagado para diminuir as suspeitas que poderiam ter sido levantadas quando apareceu junto ao portão. Agora coloque-se no lugar desse homem. Pensando que tudo estava acabado, deve-lhe ter ocorrido que talvez tivesse perdido o anel na rua quando saiu da casa. Então o que podia ele fazer? Iria procurar avidamente nos jornais da noite na esperança de o ver entre os objectos encontrados. Claro que os olhos dele iriam pousar nisto. Ficaria radiante. Por que razão havia de ter medo de uma armadilha? A seu ver não haveria motivo para que a descoberta do anel fosse relacionada com o assassínio. Viria. Ele virá. Vê-lo-á dentro de uma hora.
- E depois? - perguntei.
- Oh, na altura pode deixar que eu me ocupo dele! Tem alguma arma?
- Tenho o meu velho revólver do serviço militar e alguns cartuchos.
- Será melhor limpá-lo e carregá-lo. Ele será um homem desesperado; e, embora o apanhe de surpresa, é bom estar preparado para qualquer coisa.
Fui para o meu quarto e segui o seu conselho. Quando voltei com a pistola, a mesa tinha sido levantada e Holmes estava embrenhado na sua ocupação favorita, a de arranhar o violino.
- A intriga complica-se - disse ele, quando entrei. - Acabo de receber uma resposta ao meu telegrama para a América. A minha opinião sobre o caso é a correcta.
- E qual é? - perguntei com impaciência.
- O meu violino ficaria melhor com cordas novas - comentou ele. - Meta a pistola no bolso. Quando o homem chegar, fale-lhe com naturalidade. Deixe o resto comigo.
