Um Estudo em Escarlate - Cap. 1: Primeira Parte: 1 - O Sr. Sherlock Holmes Pág. 5 / 127
- Está de certeza no laboratório - retorquiu o meu companheiro. - Ou mantém-se afastado do emprego durante semanas ou fica lá a trabalhar de manhã à noite. Se quiser vamos lá depois do almoço.
- Certamente - respondi, e a conversa derivou para outros assuntos.
Enquanto nos dirigíamos para o hospital, depois de sairmos do Holborn, Stamford deu-me mais alguns pormenores sobre o cavalheiro a quem me propunha aceitar como companheiro de quarto.
- Não deve censurar-me se não se der bem - disse ele -, não sei mais nada acerca dele do que fiquei a saber dos meus encontros ocasionais com ele no laboratório. Você propôs este acordo, portanto não me pode responsabilizar.
- Se não nos entendermos, será fácil separarmo-nos respondi. - Parece-me, Stamford - acrescentei, mal olhando para o meu companheiro -, que você tem algum motivo para não ter responsabilidade no assunto. O temperamento deste indivíduo é assim tão terrível, ou o quê? Fale com mais clareza.
- Não é fácil exprimir o inexprimível - respondeu ele com uma gargalhada. - O Holmes é um pouco científico de mais para o meu gosto... toca as raias da crueldade. Era capaz de o imaginar a dar a um amigo uma pitada do mais recente alcalóide vegetal, não por malevolência, compreende, mas simplesmente por espírito de investigação; para ter uma ideia precisa dos efeitos. Para lhe fazer justiça, penso que ele mesmo o ingeriria com a mesma prontidão. Parece ter uma paixão pelo conhecimento definido e exacto.
- Muito certo também.
- Sim, mas pode levar a excessos. Quando se trata de bater nas pessoas com um pau na sala de dissecações, assume certamente uma forma bastante bizarra.
- Bater nas pessoas!
- Sim, para verificar até que ponto se podem infligir ferimentos depois da morte. Vi-o fazer isso com os meus próprios olhos.
- No entanto, diz que ele não é estudante de Medicina?
- Não. Só Deus sabe quais são os fins das suas investigações. Mas eis-nos chegados e você tem de formar a sua própria opinião acerca dele. - Enquanto ele falava, mudámos de direcção, descemos uma rua estreita e passámos uma pequena porta lateral que dava para uma ala do enorme hospital.