Odes Modernas - Cap. 16: CAPÍTULO VI - PALAVRAS DUM CERTO MORTO Pág. 90 / 143

CAPÍTULO VI - PALAVRAS DUM CERTO MORTO

Há mil anos e mais que aqui estou morto,

Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento:

Não há como eu espectro macilento,

Nem mais disforme que eu nenhum aborto…

Só o espírito vive: vela absorto

Num fixo, inexorável pensamento:

“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento

É isto só… do resto não me importo…

Que vivi sei-o eu bem… mas foi um dia,

Um dia só - no outro, a Idolatria

Deu-me um altar e um culto… ai! adoraram-me

Como se eu fosse alguém! como se a Vida

Pudesse ser alguém! - logo em seguida

Disseram que era um Deus… e amortalharam-me!

1873





Os capítulos deste livro