Robinson Crusoe - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 40 / 241

Tudo quanto podia fazer era manter-me à superfície da água, economizar a respiração e alcançar assim a margem a nado; o meu receio maior era que, depois de a onda me ter atirado para a praia, me recolhesse no regresso para me arrastar de novo para o mar.

A segunda onda que sobre mim veio cobriu-me como uma mole de água de vinte a trinta pés de altura, e senti que me levava com uma força e uma rapidez prodigiosas para terra. Ajudado por este impulso, contive a respiração e nadei com toda a energia. Julgava-me já prestes a afogar quando um feliz movimento me elevou, tirando-me a cabeça e os braços para fora de água durante alguns segundos, os quais me bastaram para respirar e tomar alento. Novamente coberto de água, mantive-me firme; e desta vez, sabendo que a onda começava a retroceder, lancei-me para diante a fim de que não me arrastasse mais; então, senti terra debaixo dos pés. Durante alguns minutos fiquei imóvel para cobrar ânimo, depois do que corri para a praia com toda a ligeireza de que nessa altura era capaz. Aquele esforço não foi, mesmo assim, suficiente: por duas vezes consecutivas o mar arrebatou-me para me afastar, pois a praia era muito plana.

Pouco faltou para que a última onda me fosse quase fatal, pois tendo-se voltado a apoderar de mim, impeliu-me ou, melhor dizendo, arrojou-me com tanto ímpeto sobre uma rocha que fiquei desmaiado e sem forças para nova tentativa. Apanhei a pancada nas costas e no peito, em virtude do que fiquei sem respiração, e se uma onda tivesse voltado naquele instante, teria perecido irremediavelmente. Por sorte recuperei os sentidos antes dela voltar e, no momento em que vi que ia ser de novo enrolado, agarrei-me à ponta de uma rocha parando a respiração enquanto a água me cobria. Como as ondas não eram tão altas como antes e a terra estava mais próxima, tentei avançar para junto da margem, e consegui-o, de modo que a onda seguinte que me cobriu não pôde arrastar-me já para o mar; uma nova corrida conduziu-me a terra firme, onde com grande alegria percorri as rochas da costa e me deitei em cima da erva, livre já de perigo e fora do alcance das ondas.





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