O instinto sexual será extirpado. A procriação será uma formalidade anual como a renovação de um talão de racionamento. Aboliremos o orgasmo. Nossos neurologistas estão trabalhando nisso. Não haverá lealdade, exceto lealdade ao Partido. Não haverá amor, exceto amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, exceto o riso de vitória sobre o inimigo derrotado. Não haverá nem arte, nem literatura, nem ciência. Quando formos omnipotentes, não teremos mais necessidade de ciência. Não haverá mais distinção entre a beleza e a fealdade. Não haverá curiosidade, nem fruição do processo da vida. Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre... não te esqueças, Winston... sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre, a todo momento, haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo inerme. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano - para sempre.
Fez uma pausa, como esperando que Winston falasse. Winston de novo tentara se encolher sobre a cama. Não podia dizer nada. Seu coração parecia gelado. O'Brien continuou:
- E lembra-te de que é para sempre. O rosto estará sempre ali para ser pisado. O herege, o inimigo da sociedade, ali estará sempre, para ser sempre derrotado e humilhado. Tudo que sofreste desde que estás em nossas mãos - tudo continuará, e pior. A espionagem, as traições, as prisões, as torturas, as execuções, os desaparecimentos jamais cessarão. Será tanto um mundo de terror quanto de triunfo. Quanto mais poderoso o Partido, menos tolerante: mais débil a oposição, mais rígido o despotismo. Goldstein e suas heresias viverão sempre. Todo dia, a todo momento, serão derrotados, desacreditados, ridicularizados, cuspidos - e no entanto sempre sobreviverão.