Capítulo XI - Podemos voltar aqui -disse Júlia. - Em geral, não há perigo em usar duas vezes o mesmo esconderijo. Mas só daqui a um mês ou dois, claro.
Assim que despertara, mudara totalmente sua conduta. Tornou-se alerta e prática, vestiu-se, ajustou na cintura a faixa escarlate, e pôs-se a organizar os detalhes da viagem de regresso. A Winston pareceu natural deixar-lhe a iniciativa. Evidentemente, Júlia tinha uma dose de manha prática de que ele carecia, e parecia também ter conhecimento exaustivo dos arredores de Londres, fruto de inúmeros passeios comunais. O itinerário que ela lhe sugeriu diferia bastante do que usara antes, e levava-o a outra estação.
- Nunca vás para casa pelo mesmo caminho que vieste- aconselhou, com ar de quem anuncia um importante princípio geral. Iria primeiro, e Winston esperaria meia-hora, antes de tomar o rumo de volta.
Disse o nome dum lugar onde poderiam se encontrar depois do trabalho, dali a quatro dias. Era uma rua de bairro pobre, onde havia uma feira geralmente cheia de gente ruidosa. Ela fingiria procurar algo nas barracas, como se quisesse comprar atacadores de sapato ou linha de coser. Se achasse não haver perigo, assoaria o nariz quando ele se aproximasse; senão, deveria passar sem reconhecê-la. Com sorte, porém, não haveria risco em conversarem um quarto de hora no meio da multidão combinando outro encontro.
- E agora preciso ir embora - disse ela, assim que ele decorou as instruções. - Devo voltar às dezanove e trinta. Tenho de trabalhar duas horas para a Liga Juvenil Anti-Sexo, distribuindo volantes, ou algo parecido. Não é horroroso? Queres dar-me uma escovadela, por favor? Tenho alguma folha ou raminho no cabelo? Tens certeza? Então, adeus, meu amor, adeus!
Atirou-se nos braços dele, beijou-o quase com violência, e dali a um momento abriu caminho entre as árvores, desaparecendo no bosque com barulho mínimo.