Capítulo XXII A cada estágio da prisão ele soubera, ou parecera saber, em que ponto do edifício se encontrava. Era possível que houvesse ligeira diferença na pressão do ar. Ficavam no subsolo as celas onde os guardas o tinham espancado. O quarto onde O'Brien o interrogara era bem no alto, perto do telhado. O lugar onde estava ficava muitos metros abaixo do nível do chão, tão profundo quanto era possível ir.
Era maior do que qualquer das celas em que estivera. Ele porém mal observou o ambiente. Tudo que notou foi a existência de duas pequenas mesas, bem na sua frente, ambas cobertas de feltro verde. Uma ficava a apenas um metro ou dois, e a outra mais longe, perto da porta. Estava amarrado, muito teso numa cadeira, tão fortemente ligado que não podia mexer nem a cabeça. Uma espécie de almofada comprimia-lhe a nuca, forçando-o a olhar para a frente.
Por um momento ficou só. Depois a porta se abriu e O'Brien entrou.
- Uma vez perguntaste-me - disse O'Brien - o que havia na Sala 101. E eu disse-te que sabias a resposta. Todos sabem. O que há na Sala 101 é a pior coisa do mundo.
A porta tornou a abrir-se. Um guarda entrou, trazendo algo feito de arame, uma caixa, ou cesta. Colocou-o na mesa distante. Por causa da posição ocupada por O'Brien, Winston não pôde ver bem o que era.
- A pior coisa do mundo - disse O'Brien - varia de indivíduo para indivíduo. Pode ser o sepultamento vivo, a morte pelo fogo, afogamento, empalamento, ou cinquenta outras mortes. Casos há em que é algo trivial, nem ao menos mortífero.
Afastou-se um pouco para o lado, de modo que Winston pudesse ver melhor o que estava sobre a mesa. Era uma gaiola de arame, retangular, com uma alça em cima.