Capítulo X Winston ia caminhando pela alameda pintalgada de luz e sombra, banhando-se em lagos dourados sempre que os ramos se separavam. Debaixo das árvores, à esquerda, o chão era um mar de campânulas. O ar parecia beijar-lhe a pele. Era dois de maio. Do meio do bosque se ouvia o arrulhar dos pombos bravos.
Ainda era cedo. A viagem não oferecera empecilhos, e a moça tinha tanta experiência, evidentemente, que Winston sentia menos medo do que sentiria, em circunstâncias normais. Presumivelmente ela saberia achar um lugar seguro. Em geral, não se podia imaginar maior segurança no campo do que em Londres. Não havia teletelas, naturalmente, mas havia sempre o perigo de microfones ocultos, que captavam as vozes e reconheciam os transviados; além disso, não era fácil viajar só sem atrair a atenção. Para distâncias inferiores a cem quilómetros não havia necessidade de carimbar o passaporte, mas às vezes havia patrulhas nas estações, examinando os papéis de todos os membros do Partido que por acaso encontrassem, e fazendo perguntas indiscretas. Todavia, nenhuma patrulha aparecera, e afastando-se da estação ele verificara, olhando para trás com frequência, que ninguém o seguia. O trem estava cheio de proles, alegres e festivos por causa do calor. O vagão de bancos de pau em que viajou estava completamente tomado por uma família só, enorme, desde a bisavó banguela até um bebé de um mês, a caminho de uma visita aos parentes do interior e, como explicaram sem cerimoniosamente a Winston, da compra de um pouco de manteiga no mercado negro.
A alameda alargou-se e dali a um minuto ele chegou à picada de que ela lhe falara, um simples atalho de gado, que mergulhava entre as touceiras.