" De fato Parsons, vizinho de apartamento de Winston na Mansão Vitória, vinha se encaminhando para o lado deles - um homenzinho atarracado, de estatura média, com cabelo claro e cara de rã. Aos trinta e cinco de idade, já criava rolos de gordura no pescoço e na barriga, mas seus movimentos eram alerta e infantis. Toda a sua aparência era a de um menininho crescido, tanto que, embora usasse o macacão costumeiro, era quase obrigatório imaginá-lo como um garoto de calças curtas azuis, camisa cinza e lenço vermelho dos Espiões. Visualizando Parsons, via-se sempre uma figura de joelhos gordos e covinhas, mangas arregaçadas sobre braços cheios. Com efeito, Parsons invariavelmente voltava aos shorts quando uma passeata comunal ou qualquer outra atividade física lhe dava pretexto. Cumprimentou-os com um quérulo "Alô, alô!" e sentou-se à mesa, cheirando intensamente a suor. Gotinhas de transpiração brilhavam-lhe no rosto rosado. Era extraordinária sua capacidade de exsudação. No Centro Comunal era sempre possível dizer quando ele estivera jogando pingue-pongue, pela molhadeira do cabo da raquete. Syme produzira uma tira de papel na qual havia uma longa coluna de palavras, e as estudava com um lápis-tinta na mão.
- Olha só ele trabalhando na hora do almoço - disse Parsons, dando uma cotovelada em Winston. - Puxa, hein? Que é isso aí, velhinho? Vai ver que é algo difícil para mim. Smith, meu velho, já te digo porque te procuro. É aquela conta que te esqueceste de me dar.
- Que conta é essa? - indagou Winston, procurando dinheiro automaticamente. Cerca de quarta parte do salário de cada um tinha de ser destinada a contribuições voluntárias, que eram tantas que se tornava difícil se lembrar de todas.