- Ia passando - respondeu Winston, aéreo. - Vim dar uma olhada. Não quero nada.
- Perfeitamente - concordou o homem. - Não creio que pudesse satisfazê-lo.
Fez um gesto de desculpas com a mão.
- O senhor está a ver. Não tenho nada. Loja vazia. Cá entre nós, está morto o ramo de antiquário. Ninguém mais o quer. Nem há estoque. Móveis, porcelanas, cristais - tudo foi acabando. E naturalmente o que era de metal foi fundido. Há muitos anos que não vejo um castiçal de latão. Ao invés, a lojinha estava atulhada de mercadorias, mas coisa alguma valia nada.
Mal se podia andar, porque o chão estava tomado por pilhas de molduras empoeiradas. Na janela havia bandejas com porcas e parafuso, formões sem corte, canivetes de folha partida, relógios enegrecidos que nem fingiam poder funcionar, e uma variedade enorme de bricabraque. Apenas numa mesinha ao canto havia uma miscelânea - caixas de rapé, laqueadas, broches de ágata, coisas assim - que parecia incluir algo interessante. Quando Winston dela se aproximou, seu olhar foi atraído por um objeto liso, redondo, que brilhava suavemente, à luz do lampião. Tomou-o na mão e examinou-o.
Era um pesado bloco de vidro, semiesférico, e tanto a textura como o colorido do cristal ostentavam estranha suavidade, como a da água da chuva. Bem no centro, ampliado pela superfície convexa, havia um objeto cor-de-rosa, em voluta, que lembrava uma rosa ou uma anêmona dó mar.
- Que é isto? - perguntou Winston, fascinado.
- É coral - informou o velho. - Deve ter vindo do oceano índico.