Passou nova correnteza de carros. Despertou-lhe a atenção um em particular, um modelo alongado, admirável como uma andorinha, todo reluzente azul e prateado, que decerto não custara menos de mil libras. Sentava-se ao volante um motorista de uniforme azul-escuro, empertigado, imóvel, como uma estátua altiva. No interior da retaguarda, iluminado por um clarão rosado, encontravam-se jovens elegantes - dois rapazes e duas raparigas que fumavam e riam.
Gordon teve um vislumbre de rostos saudáveis e despreocupados, evidenciados pelo clarão íntimo peculiar que nunca pode ser simulado - o brilho suave e quente do dinheiro.
Atravessou finalmente a rua. Não haveria comida, naquela noite. Mas ainda restava petróleo na lamparina, graças a Deus, pelo que poderia tomar uma chávena de chá clandestina, quando chegasse ao quarto. Naquele momento, viu-se e à sua vida sem disfarces salvadores. Era a mesma coisa todas as noites - regresso ao' quarto solitário, frio e tenebroso, com folhas dispersas de um poema que não avançava. No fundo, constituía um beco sem saída. Nunca terminaria Prazeres Londrinos, nunca casaria com Rosemary e nunca estabeleceria um mínimo de ordem na sua vida. Limitar-se-ia a singrar e afundar-se, singrar e afundar-se, como os outros membros da sua família; mas, pior do que eles, cada vez mergulhava mais num submundo medonho que ainda só conseguia imaginar vagamente. Fora o caminho que escolhera, quando declarara guerra ao dinheiro. Serve o deus-dinheiro ou afunda-te - não havia outra regra.