No mesmo momento, aconteceu algo de medonho.
A garganta obstruíra-se espontaneamente ou a cerveja não acertara na boca, pois alagava-o por completo, como se se tratasse de uma inundação. Ele afogava-se em cerveja como o irmão leigo Peter nas Lendas de Ingoldsby. Socorro! Tentou gritar, sufocado, e largou o copo. Registou-se um rebuliço à sua volta. As pessoas saltavam para trás, a fim de se esquivarem. Gordon mantinha-se de pé, embora oscilasse sensivelmente. Homens, garrafas e espelhos ondulavam em redor. Começava a cair, a perder o conhecimento. Mas vagamente visível na sua frente, achava-se um vulto negro, único ponto de estabilidade' num mundo cambaleante: a garrafa de cerveja. Agarrou-se-lhe desesperadamente, numa derradeira tentativa para não acompanhar a voragem. Ravelston moveu-se na sua direcção.
A barmaid inclinou-se sobre o balcão, indignada.
O mundo em rotação passou a mover-se mais devagar e parou. O cérebro de Gordon estava desanuviado.
- Por que se agarra à garrafa?
- Entornou a cerveja nas minhas calças! - queixou-se o viajante comercial.
- Sim! Por que se agarra à garrafa?
Gordon deu um salto para o lado. O rosto alongado do major observava-o com curiosidade, o bigode hirsuto convertido num apêndice hostil.
- Ela pergunta por que me agarro à garrafa?
- Como é isso?
Ravelston conseguiu finalmente- abrir caminho entre a pequena multidão, rodeou a cintura de Gordon com o braço e ajudou-o a reequilibrar-se.
- Veja se se aguenta de pé! Está bêbedo.
- Bêbedo? - Gordon enrugou a fronte, perplexo.
Entretanto, todos se riam deles, e o rosto pálido de Ravelston principiou a avermelhar-se.
- Cada copo destes custa dois xelins e três pence - observou a barmaid, indicando o de Gordon, que se estilhaçara no chão.
- E as minhas calças? - acudiu o viajante comercial.
- Eu pago o copo - disse Ravelston, colocando o dinheiro em cima do balcão. - E agora saiamos daqui - decidiu, voltando-se de novo para Gordon. - Você está bêbedo como um cacho.