Mas tratava-se, evidentemente, de uma publicação americana. Os americanos suplantam sempre todos os outros povos em qualquer tipo de exagero, quer se trate de gelados, banditismo ou teosofia. Gordon dirigiu-se de novo à mesa das revistas femininas e pegou noutra. Inglesa, desta vez.
Era possível que os anúncios de uma publicação britânica não se revelassem tão detestáveis e fossem um pouco menos brutalmente ofensivos.
Abriu-a. Flique, flique. Os ingleses nunca serão escravos!
Flique, flique. Reduza a cintura ao diâmetro normal!
Ela disse «Obrigada pela boleia», mas pensava «Por que será que ninguém lhe abre os olhos, pobre rapaz?». Como uma mulher de trinta e dois anos roubou o namorado a uma de vinte. Alívio imediato para os possuidores de rins sensíveis. Costura-de-Seda, o melhor papel higiénico. A asma sufocava-a! Envergonha-se das suas cuecas? As crianças choram pelos Flocos Truweet. Agora, a minha expressão de colegial desapareceu para sempre. Deslize todo o dia numa prancha de Vitamalte!
Misturar-se com aquilo! Estar lá dentro e pertencer-lhe por completo! Santo Deus!
Acabou por sair da biblioteca. O mais hediondo era que já sabia o que faria. Tomara uma decisão inabalável há muito tempo. Quando o actual problema surgira, fornecera-lhe a solução - toda a sua hesitação não passara de uma espécie de fantasia. Sentia como que uma força exterior que o empurrava. Avistou uma cabina, e ele sabia que a pensão de Rosemary tinha telefone. Convencido de que se encontraria lá àquela hora, entrou e levou a mão à algibeira. Sim, tinha exactamente duas moedas de péni. Introduziu-as na caixa e marcou o número.
Atendeu uma voz roufenha e adenoidal:
- Queem faala, por faavor?
Gordon carregou no botão A. Estavam lançados os dados.
- Miss Waterlow está?
- Queem faala, por faavor?
- Diga que é Gordon Comstock. Ela conhece-me. Sabe se está?
- Voou veer. Um moomento.
Seguiu-se uma pausa. - Está? És tu, Gordon?
- Está? Está? És tu, Rosemary? Queria só dizer-te uma coisa. Estive a pensar e... Bem, tomei uma decisão.