Sim, era essa a verdade. Agora que tomara a decisão, não sentia nada além de alívio, por finalmente abandonar a imundície, frio, fome e solidão e poder voltar à vida decente inteiramente humana. As suas resoluções, agora que as infringira, afiguravam-se-lhe apenas um peso terrível de que se libertara. Por outro lado, apercebia-sede que se limitava a cumprir o seu destino. Num recanto do espírito pairara sempre a convicção de que aquilo sucederia. Recordou o dia em que se despedira da New Albion e do rosto avermelhado, adiposo e afável de Mr. Erskine que o aconselhava a não voltar as costas a um «bom» emprego. Com que veemência jurara então a si próprio que pusera termo aos «bons» empregos para sempre! Não obstante, estava escrito que reconsideraria, e ele já então o pressentia. De resto, não fora apenas por causa de Rosemary e do bebé que tomara aquela decisão.
Isso constituía a causa óbvia, a causa que precipitara os acontecimentos, porém mesmo sem ela o desenlace não diferiria. Se não houvesse o bebé a considerar, surgiria alguma outra coisa para lhe aplicar o impulso final. Porque, no fundo do coração, era o que desejava.
De resto, não carecia de vitalidade, e a existência sem dinheiro a que se condenara afastara-o implacavelmente da corrente da vida. Evocou os dois últimos e medonhos anos. Blasfemara contra o dinheiro, revoltara-se contra ele, tentara viver como um anacoreta fora do mundo do dinheiro, o que só lhe provocara não só amargura, mas também um vazio assustador, uma persistente sensação de futilidade. Renegar o dinheiro equivale a voltar as costas à vida. Não exageres a rectidão; por que hás-de morrer antes do teu tempo? Agora, regressara ao mundo do dinheiro ou, pelo menos, não tardaria a fazê-lo.