O Vil Metal - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 51 / 257

Gordon e Júlia abandonaram o apartamento. Ele mudou-se para um quarto mobilado na Doughty Street (parecia-lhe vagamente literário viver em Bloomsbury) e a irmã para Eal's Court, para estar perto do salão de chá. Ela quase completara trinta anos, mas dir-se-ia muito mais velha. Estava mais magra que nunca, embora saudável, e havia numerosos vestígios grisalhos no cabelo. Continuava a trabalhar doze horas por dia e, em seis anos, o seu salário aumentara apenas dez xelins. A mulher horrivelmente afectada que explorava o estabelecimento acumulava as funções de semiamiga e patroa, pelo que podia exigir o máximo de Júlia ao som de atributos embaladores como «cara amiga» e «querida».

Quatro meses após a morte da mãe, Gordon despediu-se subitamente do emprego, sem apresentar qualquer justificação. Os responsáveis da firma supuseram que pretendia «melhorar a sua situação financeira» e, afortunadamente, como se verificou mais tarde, forneceram-lhe excelentes referências. Ora, ele nem sequer pensara em procurar outra colocação. Queria tomar uma decisão irrevogável. A partir de então, respiraria ar puro, livre do fedor do dinheiro. Embora não esperasse conscientemente que a mãe morresse para proceder assim, foi a sua morte que- lhe imprimiu o impulso decisivo.

Como seria de esperar, registou-se nova e mais desoladora discussão no que restava da família. Pensavam que Gordon enlouquecera. Ele tentou repetidamente, em vão, explicar porque não queria submeter-se à servidão de um «bom» emprego. «Mas do que vais viver? Como tencionas sustentar-te?», disparavam-lhe com expressões de reprovação. No entanto, recusava pensar seriamente no assunto. Aliás, continuava mais ou menos persuadido de que poderia aguentar-se com o produto da sua «escrita». Entretanto, conhecera Bavelston, editor do Anticristo, o qual, além de lhe publicar os poemas, lhe arranjava livros para criticar. As suas perspectivas literárias não eram tão obscuras como seis anos atrás. Em todo o caso, a verdadeira motivação não consistia no desejo de «escrever».





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