O que pretendia era sair do mundo do dinheiro e ansiava vagamente por uma espécie de existência de anacoreta. Tinha a sensação de que se na realidade desprezasse o dinheiro poderia continuar a viver, como as aves no ar. Esquecia que as aves no ar não têm de pagar renda da casa: O poeta faminto num sótão - mas não desconfortavelmente constituía a sua visão de si próprio.
Os sete meses imediatos foram o que significava viver semanas consecutivas de pão e manteiga, tentar «escrever» com o estômago vazio, empenhar a roupa, subir a escada furtivamente por dever três semanas de renda e a dona da casa ter o ouvido apurado.
Além disso, durante esse lapso de tempo não escreveu praticamente nada. O primeiro efeito da pobreza é que mata o pensamento. Ele descobriu, como se fosse uma novidade, que uma pessoa não se furta ao dinheiro pelo simples facto de não o possuir. Pelo contrário, torna-se seu escravo inevitável até o ter em quantidade suficiente para viver - uma «competência», segundo a detestável expressão da classe média. Por último, foi expulso do quarto, na sequência de uma discussão vulgar. Permaneceu três dias e quatro noites na rua. Foi horrível. Passou três manhãs, a conselho de um homem que conheceu no Embankment, em Billingsgate, ajudando a impelir barricadas de peixe na encosta íngreme, daí para Eastcheap. «Dois pence cada subida» era a tarifa em vigor, num trabalho que martirizava os músculos das pernas. Havia uma autêntica multidão de candidatos ao mesmo trabalho, pelo que cada um tinha de aguardar a sua vez e podia considerar-se afortunado se arrecadava dezoito pence entre as quatro e as nove da manhã. Gordon desistiu passados três dias. De que servia insistir? Estava derreado e vencido. Só lhe restava regressar ao seio da família, pedir dinheiro- emprestado e procurar outro emprego.
Porém agora não havia nenhum disponível e, durante meses, viveu à custa da família. Júlia sustentou-o até ao derradeiro péni das suas magras economias. Era abominável. Eis o resultado de todas as suas requintadas atitudes!