O Vil Metal - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 58 / 257

Era essa a sua grande qualidade. Conseguia sempre abarcar o ponto de vista do interlocutor. Decerto se devia à circunstância de ter dinheiro, pois os ricos podem permitir-se o luxo de ser inteligentes. Além disso, como era abastado, podia arranjar empregos aos outros. Passadas apenas duas semanas, falou a Gordon de algo que' lhe poderia convir. Um certo Mr. McKechnie, um assaz modesto vendedor de livros usados com o qual Ravelston tinha relações comerciais ocasionalmente, necessitava de um ajudante. Tratava-se da antítese exacta de um «bom» emprego. Muitas horas de trabalho, salário baixo - duas libras por semana - e sem possibilidades de promoção. Era, no fundo, um emprego do tipo beco-sem-saída. E, evidentemente, uma colocação tipo' beco-sem-saída correspondia com exactidão ao que Gordon tinha em mente. Nessa conformidade, avistou-se com Mr. Kechnie, um velho escocês de expressão benigna, nariz avermelhado e barba branca manchada de rapé, que o admitiu sem hesitar. Nessa altura, o seu volume de poemas, Ratos, ia entrar no prelo. O sétimo editor a quem o enviara aceitara-o. Gordon ignorava que se devia à intervenção de Ravelston, amigo pessoal do editor em causa. Na realidade, precedia assim com frequência, no caso de poetas obscuros. Gordon considerou que o futuro se lhe abria.

Era um vencedor - ou, segundo os aspidistranos princípios Smilesianos, um vencido.

Despediu-se do escritório com um mês de antecedência. A situação foi a todos os títulos penosa. Júlia mostrou-se, naturalmente, mais preocupada que nunca com o segundo abandono de um «bom» emprego. Entretanto, Gordon cultivara as relações com Rosemary, que não tentou impedi-lo de voltar as costas ao lugar que ocupava. Interferir era contrário ao seu código. «Tem de viver a sua própria vida» constituía sempre o seu lema. No entanto, não entendia minimamente porque ele o fazia. Curiosamente, o que mais o impressionou foi a entrevista com Mr. Erskine. Este revelou-se sinceramente cordial.





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