condensa um mundo de mentiras numa centena de sílabas - acudia-lhe tudo quase espontaneamente. Embora sempre tivesse possuído uma inclinação marcada para as palavras, era a primeira vez que a utilizava satisfatoriamente. Mr. Clew considerou-o prometedor. Por seu turno, Gordon assistiu ao seu próprio desenvolvimento, primeiro com surpresa, depois com ar divertido e finalmente com uma espécie de horror. Era, pois, naquilo que se estava a tornar! Escrever mentiras para arrancar dinheiro dos bolsos dos patetas! Havia, também, uma terrível ironia no facto de ele, que queria ser «escritor», obter o seu único êxito com a redacção de anúncios de desodorizantes. No entanto, isso resultava menos invulgar do que supunha. Com efeito, diz-se que muitos autores de textos publicitários são romancistas manqués - ou seria o contrário?
A Queen of Sheba ficou muito satisfeita com os seus anúncios. E Mr. Erskine também. Como corolário natural, o salário de Gordon sofreu o aumento de dez xelins semanais. E foi então que' ele se alarmou. O dinheiro começava a dominá-lo, apesar de tudo. Deslizava cada vez mais fundo, para a pocilga do dinheiro. Um pouco mais, e ficaria preso para sempre. É curioso como essas coisas acontecem. Uma pessoa assume uma posição contra o êxito, jura que nunca Triunfará, acredita que não poderia triunfar, mesmo que quisesse, e, de repente, acontece algo, uma mera casualidade qualquer, e descobre-se a Triunfar quase automaticamente. Compreendeu que, agora ou nunca, era altura de se esquivar.
Tinha de se libertar do mundo do dinheiro, irrevogavelmente, antes que se envolvesse de um modo irreversível.
Mas desta vez não passaria fome para conseguir a submissão. Procurou Ravelston para lhe pedir auxílio. Explicou que pretendia um emprego qualquer; não um «bom» emprego, mas que lhe sustentasse o corpo sem se apoderar da alma. Ravelston compreendeu perfeitamente. A distinção entre um emprego e um «bom» emprego não precisava de lhe ser pormenorizada, e absteve-se de lembrar a Gordon a insensatez do que desejava fazer.