Ravelston murmurou umas palavras de concordância com um curioso ar de culpa. Entravam assim no tema favorito de ambos - dele, pelo menos: a futilidade, a crueldade, a mortalidade da vida moderna. Nunca se encontravam que não trocassem impressões sobre o assunto durante pelo menos meia hora. No entanto, Ravelston acabava sempre por se sentir desconfortável. Sabia, é claro, de certo modo- era precisamente para salientar isso que o Anticristo existia - que a vida sob a égide do capitalismo decadente era terrível e destituída de sentido. Todavia, esse conhecimento devia considerar-se apenas teórico. Com efeito, uma pessoa não pode sentir uma situação dessas, quando tem um rendimento' anual de oitocentas libras. Na maior parte do tempo, quando não pensava nos mineiros de carvão, coolies chineses que trabalhavam nos juncos e desempregados em Middlesbrough, admitia que a vida, no fundo, era divertida. Além disso, acalentava a ingénua convicção de que o socialismo não tardaria a endireitar o mundo. Afigurava-se-lhe que Gordon manifestava sempre tendência para exagerar. Por conseguinte, havia um desacordo subtil entre ambos, que as boas maneiras impediam Ravelston de fazer surgir à superfície.
Mas o caso de' Gordon era diferente. Como tinha um rendimento de duas libras semanais, odiava a vida moderna, e o desejo de ver a civilização dia dinheiro ser pulverizada por bombas nunca lhe abandonava o pensamento.
Caminhavam para sul, através de uma rua residencial pouco iluminada, mas sofrivelmente decente, com algumas lojas de montras protegidas por pesados estores. Num muro entre dois prédios, o rosto de um metro de largura do Mesa do Canto exibia um sorriso afectado ao clarão pálido de um candeeiro. Gordon descortinou uma aspidistra semimurcha num peitoril. Londres!