Sangue Azul - Cap. 9: 9 Pág. 89 / 287

Mas Walter nem buliu.

No instante seguinte, porém, ela sentiu que estava a ser libertada dele, que alguém o tirava de cima de si, que embora o rapazinho a tivesse forçado a baixar muito a cabeça, as suas pequenas mãos vigorosas estavam a ser soltas do seu pescoço e Walter a ser afastado, antes que ela tivesse tempo de saber que era o capitão Wentworth quem o fazia.

O que sentiu, ao descobri-lo, deixou-a perfeitamente sem fala. Nem sequer foi capaz de lhe agradecer. Pôde apenas debruçar-se sobre o pequeno Charles, presa dos mais desordenados sentimentos. A amabilidade dele ao avançar em seu socorro, a maneira como o fizera, o silêncio em que tudo decorrera, os pequenos pormenores, tudo isso, somado à convicção que não tardou a ter, induzida pelo ruído estudado que ele estava a fazer com o rapazinho, de que o capitão pretendia evitar ouvir os seus agradecimentos e, ao invés, demonstrar-lhe que as suas palavras eram a última coisa que desejava escutar, causou-lhe uma tal confusão, uma agitação tão multiforme e dolorosa, que só conseguiu libertar-se dela quando, graças à entrada de Mary e das irmãs Musgrove, pôde confiar o pequeno paciente aos cuidados delas e sair da sala. Não foi capaz de ficar ali. Poderia ter sido uma oportunidade para observar os amores e os ciúmes dos quatro, agora todos reunidos, mas ela não o suportaria. Era evidente que Charles Hayter não via com bons olhos o capitão Wentworth. Anne tinha a forte impressão de que ele dissera, num tom de voz agastado, depois da interferência do capitão Wentworth: «Devias ter-me ouvido, Walter, eu disse-te que não aborrecesses a tua tia», e compreendia perfeitamente que lamentasse que o capitão Wentworth fizesse o que ele mesmo devia ter feito. Mas nem os sentimentos de Charles Hayter, nem os de qualquer outra pessoa, a poderiam interessar enquanto não pusesse um pouco de ordem nos seus.





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