As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 4: A Tragédia do Glória Scott Pág. 90 / 274

As divisões entre as celas dos prisioneiros, em vez de serem de grosso carvalho, como usualmente nos navios de prisioneiros, eram muito mais finas e frágeis. O homem que ficou perto de mim foi aquele que notei de maneira mais particular quando nos fizeram descer ao cais. Era jovem, de rosto claro e imberbe, de longo nariz fino e com unhas de quebra-nozes. Caminhava de cabeça altiva, tinha um modo gigante de andar e era, acima de tudo, o mais notado devido à sua extraordinária altura. Creio que nenhuma das nossas cabeças lhe chegaria ao ombro, e estou certo de que não podia medir menos de seis pés e meio. Era estranho, entre tantas fisionomias tristes e cansadas, ver um que estava cheio de energia e resolução. A sua presença era para mim como um fogo numa tempestade de neve. Fiquei alegre, portanto, ao descobrir que era meu vizinho, e mais alegre ainda quando, nas horas mortas da noite, ouvi um cochicho perto do meu ouvido e verifiquei que ele fizera uma abertura na tábua que nos separava.

'- Olá, colega!' - disse. '- Qual é o seu nome e por que está aqui?' Respondi-lhe e por minha vez perguntei com quem estava a falar. '- Sou Jack Prendergast - disse-me -, e juro que há-de aprender a abençoar o meu nome antes de me ver pelas costas.'

'- Lembro-me de ter ouvido falar no seu caso, porque causou uma enorme sensação em todo o país, um pouco antes da minha prisão.'

Era um homem de boas famílias e de grande capacidade, mas de hábitos incuravelmente maus, que tinha, devido a um engenhoso sistema de fraude, obtido enorme soma de dinheiro dos principais comerciantes de Londres.

'- Ah! Você lembra-se do meu caso?' - perguntou ele com orgulho.

'- Na verdade, lembro-me muito bem.





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