As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 4: A Tragédia do Glória Scott Pág. 89 / 274

E agora pode compreender qual não foi o meu choque quando, algumas semanas atrás, o seu amigo e colega me dirigiu palavras que pareciam indicar que ele adivinhara o meu segredo. Foi como Armitage que entrei numa casa bancária de Londres, e como Armitage fui preso, por não respeitar as leis do meu país, e sentenciado ao degredo. Não me julgue muito severamente, meu filho. Era uma dívida de honra, assim chamada, que eu tinha de pagar, e servi-me do dinheiro que não era meu para a saldar, na certeza de que podia repô-lo antes da possibilidade de a sua falta ser notada. Mas a mais terrível falta de sorte perseguiu-me. O dinheiro que esperava nunca me veio parar às mãos, e um exame prematuro das contas revelou o meu défice. O caso podia ter sido tratado com indulgência, mas as leis eram aplicadas mais implacavelmente trinta anos atrás do que agora. E no meu vigésimo terceiro ano vi-me na cadeia como réu, com trinta e sete outros prisioneiros, no convés do navio Glória Scott, com destino à Austrália.

Foi no ano de 1855, quando a guerra da Crimeia estava no auge e os velhos navios de prisioneiros estavam a ser largamente empregados como transporte no mar Negro. O governo foi obrigado então a usar os barcos menores e a adaptá-los ao transporte dos seus prisioneiros. O Glória Scott andava no tráfego chinês do chá. Era um navio antiquado, fortemente bojudo e muito largo, e os novos navios de marcha rápida tinham-no substituído. Era de quinhentas toneladas, e além dos seus trinta e oito 'passarinhos', tinha uma tripulação de vinte e seis marinheiros, dezoito soldados, um capitão, três pilotos, um médico, um capelão e quatro carcereiros. Levava quase cem almas quando saímos de Falmouth.





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