- E não havia mais nada? - perguntou Holmes.
- Nada de importante. O romance do homem, que estivera a ler para adormecer, estava sobre a cama, e o cachimbo estava em cima de uma cadeira ao lado dele. Havia um copo de água sobre a mesa e uma pequena caixa de comprimidos, com alguns comprimidos, no peitoril da janela.
Sherlock Holmes saltou da cadeira com uma exclamação de alegria.
- O último elo - gritou ele, exultantemente. - O meu caso está completo.
Os dois detectives olharam para ele, espantados.
- Já tenho nas minhas mãos - disse o meu companheiro, confiante - todos os fios que formaram tal confusão. Claro que são detalhes que têm de ser encaixados, mas estou certo de todos os principais factos, desde a altura em que Drebber se separou de Stangerson na estação, até à descoberta do corpo do segundo, como se eu os tivesse presenciado com os meus próprios olhos. Dar-lhes-ei uma prova do meu saber. Era capaz de encontrar aqueles comprimidos?
- Tenho-os comigo - disse Lestrade, mostrando uma pequena caixa branca -; fiquei com eles, com a carteira e com o telegrama, com a intenção de os pôr num lugar seguro na esquadra. Ter trazido estes comprimidos foi um mero acaso, porque sou obrigado a dizer que não lhes atribuo nenhuma importância.
- Dê-os cá - disse Holmes. - Então, doutor - virando-se para mim -, são comprimidos vulgares?
Claro que não eram. Tinham uma cor cinzenta, como as pérolas, pequenos, redondos e quase transparentes contra a luz.
- Pelo brilho e pela transparência, penso que são solúveis em água. - comentei.
- Exactamente - respondeu Holmes. - Agora não se importa de ir lá abaixo buscar aquele pobre terrier que há tanto tempo que está tão mal e que a senhoria quis que lhe acabasse ontem com o sofrimento?
Desci as escadas e trouxe para cima o cão nos meus braços. A respiração ofegante e o olhar vítreo mostravam que estava perto do fim. De facto, o focinho branco como a neve revelava que já ultrapassara o termo normal da existência canina.
