- É isso - disse Lestrade, numa voz aterrada, e ficámos todos calados por instantes.
Havia algo de tão metódico e incompreensível nos actos deste assassino desconhecido, que transmitia um novo carácter sinistro aos seus crimes. Os meus nervos, que eram bastante firmes no campo de batalha, vibraram quando pensei nisto.
- Viram o homem - prosseguiu Lestrade. - Um leiteiro que ia a caminho da leitaria, descia por acaso a vereda que vem das estrebarias, nas traseiras do hotel. Reparou que uma escada, que costumava lá estar, fora levantada e encostada a uma das janelas do segundo andar, que estava aberta de par em par. Depois de passar, olhou para trás e viu um homem a descer a escada. Ele desceu com tanta calma e com tanto à-vontade que o rapaz pensou que era algum carpinteiro ou marceneiro que trabalhava no hotel. Não lhe prestou muita atenção, para além de pensar para com os seus botões que era cedo para ele estar a trabalhar. Tem a impressão que o homem era alto, tinha um rosto um tanto vermelho e envergava um casaco comprido, acastanhado. Deve ter ficado pouco tempo no quarto depois do assassínio, porque descobrimos água tingida de sangue na bacia, onde ele lavara as mãos, e marcas nos lençóis onde deliberadamente limpara a faca.
Lancei um olhar a Holmes ao ouvir a descrição do assassino, que coincidia perfeitamente com a dele. Todavia, não havia nenhum sinal de exultação ou satisfação no seu rosto.
- Não encontrou nada no quarto que pudesse fornecer uma pista em relação ao assassino? - perguntou ele.
- Nada. Stangerson tinha no bolso a carteira de Drebber, mas parece que era normal, visto ser ele a fazer todos os pagamentos. Dentro dela havia oito libras e alguns trocos, mas não tiraram nada. Quaisquer que sejam os motivos destes crimes invulgares, certamente que o roubo não é um deles. Não havia documentos ou memorandos no bolso do homem assassinado, a não ser um telegrama de Cleveland, datado de há cerca de um mês, que dizia: «J. H. está na Europa». Não havia nenhum nome apensado a esta mensagem.