Sherlock Holmes respirou fundo e limpou o suor da testa.
- Devia ter mais fé - disse ele -;já tinha obrigação de saber que quando um facto parece opor-se a uma série de deduções, prova invariavelmente ser capaz de suportar outra interpretação. Dos dois comprimidos da caixa, um era feito de veneno mortal e outro era completamente inofensivo. Devia saber isso mesmo antes de ver a caixa.
Esta última afirmação pareceu-me tão surpreendente que mal podia acreditar que ele estivesse no seu juízo perfeito. Todavia, havia o cão morto para provar que a sua conjectura tinha sido correcta. Tive a sensação que a confusão no meu espírito se ia afastando pouco a pouco e comecei a ter a percepção ténue e vaga da verdade.
- Tudo isto lhes parece estranho - prosseguiu Holmes -, porque no início da investigação não conseguiram compreender a importância da única pista existente que lhes foi apresentada. Tive a felicidade de a aproveitar, e tudo o que aconteceu desde então serviu para confirmar a minha primeira conjectura; de facto, era a sequência lógica. A partir dessa altura aquilo que vos desorientou e tornou o caso mais obscuro serviu para me esclarecer e reforçar as minhas conclusões. É um erro confundir singularidade com mistério. O crime mais banal é muitas vezes o mais misterioso, porque não apresenta características novas nem especiais a partir das quais se possam tirar ilações. Este assassínio teria sido infinitamente mais difícil de desvendar se o corpo da vítima tivesse sido simplesmente encontrado na estrada sem quaisquer daqueles acessórios outré e sensacionais que o tornaram invulgar.