Cândido - Cap. 30: CAPÍTULO XXX – Conclusão Pág. 115 / 118

- Bem previ - disse Martin a Cândido - que os vossos presentes seriam dissipados num instante e os tornariam ainda mais miseráveis. Vós próprio e Cacambo dissipastes milhões de piastras, e nem por isso sois mais felizes que o Irmão Giroflée e Paquette.

- Ah! Ah! - disse Pangloss a Paquette. - O Céu reconduz-vos para aqui, para o meio de nós, minha pobre filha! Sabeis que por vossa causa perdi a ponta do nariz, um olho e uma orelha? Em que estado vos encontrais! O que é o mundo!

Esta nova aventura levou-os a filosofar mais do que nunca. Havia na vizinhança um derviche muito famoso que passava por ser o melhor filósofo da Turquia. Foram consultá-lo. Pangloss tomou a palavra e disse-lhe:

- Mestre, vim pedir-vos que nos digais porque foi criado um animal tão estranho como o homem.

- Porque te importas com isso - respondeu-lhe o derviche -, se é coisa que não te diz respeito?

- Mas, reverendo padre - insistiu Cândido -, é horrível o mal que há no mundo.

- Que importa que haja mal ou bem? - disse o derviche. - Quando Sua Alteza manda um navio ao Egipto, trata, porventura, de saber se os ratos que vão a bordo estão à sua vontade ou não?

- Que devemos então fazer? - disse Pangloss.

- Calares-te - opinou o derviche.

- Seria para mim muito mais lisonjeiro - disse Pangloss - discorrer um pouco convosco sobre causas e efeitos, o melhor dos mundos possíveis, a origem do mal, a natureza da alma e a harmonia preestabelecida.

O derviche, a estas palavras, fechou-lhes a porta na cara. Enquanto decorria esta conversa espalhara-se a notícia de que acabavam de estrangular em Constantinopla dois vizires e o mufti e que haviam sido empalados muitos dos seus amigos.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113