Cândido - Cap. 17: CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram Pág. 55 / 118

O rio era cada vez mais largo, acabando por fim por se perder sob uma abóbada de rochedos que se elevavam até ao céu. Os dois viajantes tiveram a ousadia de se abandonar à corrente que deslizava sob esta abóbada. O rio, que neste local se estreitava, arrastou-os com uma rapidez extraordinária e um fragor horrível. Ao cabo de vinte e quatro horas, voltaram a ver a luz do dia; a canoa, porém, desconjuntou-se contra os penedos. Tiveram de se arrastar de rochedo em rochedo durante uma légua, descobrindo por fim um horizonte imenso, bordado de montanhas inacessíveis.

A região fora cultivada para o prazer e para a necessidade. Os caminhos estavam cobertos, ou, antes, ornados de viaturas de forma e matéria brilhantes, transportando homens e mulheres de uma beleza singular, puxadas velozmente por grandes carneiros vermelhos que excediam em velocidade os mais belos cavalos de Andaluzia, de Tetuão ou de Mequinez.

- Eis aqui um país superior à Vestefália - observou Cândido.

Apearam-se junto da primeira aldeia que encontraram. Algumas crianças, vestidas de brocado de ouro esfarrapado, jogavam a malha à entrada da povoação. Os nossos dois homens do outro mundo divertiram-se a observá-las. Jogavam com malhas redondas, amarelas, vermelhas e verdes, que tinham um brilho singular. Os nossos dois viajantes sentiram-se tentados a apanhar algumas, pois eram de ouro, esmeraldas e rubis, e a mais pequena delas constituiria o maior ornamento do trono do Mogol.

- Estes miúdos são, sem dúvida, filhos do rei do país - observou Cacambo.

Neste momento apareceu o professor da aldeia a chamá-los para a escola.

- Deve ser o preceptor da família real - disse Cândido. Os pequenos abandonaram imediatamente o jogo, deixando as marcas no chão, ao lado dos outros objectos com que brincavam.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113