Eurico, o Presbítero - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 24 / 186

E este pensamento trouxe-me pouco a pouco à memória as tempestades do passado. Ai de mim! Logo se me enxugaram as lágrimas, porque eram de consolação, e essa lembrança as estancou!

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Porque não adormeço eu, como o rude barqueiro, ao murmúrio das vagas sonolentas, ao sussurro da brisa do norte?

Porque mulher bárbara não entendeu o que valia o amor de Eurico; porque velho orgulhoso e avaro sabia mais um nome de avós do que eu, e porque nos seus cofres havia mais alguns punhados de ouro do que nos meus.

As mãos imbeles de uma donzela e de um velho esmagaram e despedaçaram o coração de um homem, como os caçadores covardes assassinam no fojo o leão indomável e generoso.

E, todavia, este coração sentia a voz da consciência pregoar-lhe largos destinos! Porque não emudeceu essa voz quando do pórtico do templo lancei ao mundo a maldição da despedida?

Porque me lembra com saudade, aqui, a estas horas, o tempo das minhas esperanças?

É porque o viver é o ecúleo do espírito: a alma estorce-se como agonizante no meio dos mais incomportáveis tormentos, sem nunca poder expirar, e os seus afectos profundos são com ela; não lhes é dado morrer.

Paz e esquecimento, oh meu Deus!





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