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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 148

O espectáculo que oferecia a caverna de Covadonga na noite imediata àquela que se despediu com os sucessos das margens do Sália era mui semelhante ao dessoutra noite em que Pelágio recebera a nova do cativeiro de Hermengarda — espectáculo semelhante, mas personagens, em parte, diversas. Na vasta lareira, próxima da entrada da gruta e a que servia de chaminé uma larga fenda dos rochedos superiores, ardiam alguns cepos de carvalho, que, repassados do fogo durante longa noite de Novembro e abrasados até à medula, davam apenas uma chama ténue e azulada, cujo fraco esplendor se perdia na claridade brilhante de cinco ou seis fachos encostados pelas paredes irregulares da caverna. Do numeroso tropel de guerreiros que naquela memorável noite se tinham erguido à voz do moço duque de Cantábria, travando das armas, apenas se viam agora, estendidos nos grosseiros leitos formados das peles de animais bravios, dez cavaleiros, que no seu profundo sono, no transfigurado do gesto e no desalinho dos trajos faziam antes lembrar o lazer de cadáveres, que o repousar de vivos. Perto do lar aceso, assentado em escabelo tosco e com a cabeça encostada ao braço firmado numa anfractuosidade do rochedo, via-se, também adormecido, um guerreiro em cujo rosto os sulcos das rugas e o cavado das faces davam, porventura, mostra de mais dilatada vida do que, na realidade, era a sua. O sono parecia nele unicamente o entorpecimento das forças físicas exaustas e não o repouso do espírito; porque, de quando em quando, os membros se lhe agitavam por estremeção violento, ou se lhe descerravam os olhos, e moviam os lábios, como se tentasse falar: mas sussurrava apenas alguns sons inarticulados, e caía de novo em torpor, que não tardava em ser outra vez interrompido. Num recesso da gruta, formado pelos ressaltos das rochas e que servia como de câmara ao jovem capitão dos foragidos, parecia também jazer um vulto sobre telas mais delicadas que os despojos de animais silvestres, as quais eram, talvez, ainda restos do anterior luxo dos paços de Tárraco; talvez, vestígios da passada grandeza dos duques de Cantábria e da antiga civilização gótica.

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pág. 148 (Capítulo 17)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 148

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176