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MAIS de sete séculos são passados depois que tu, oh Cristo, vieste visitar a terra.
E as tuas palavras foram escutadas pelos indomáveis filhos da Gótia, e eles ajoelharam aos pés da Cruz.
Era que nessas palavras divinas havia uma poesia celeste, a qual as almas rudes mas virgens do Setentrião sentiam casar-se com as suas primitivas virtudes.
Tu evangelizavas a liberdade e condenavas todo o género de tirania: tu restituías ao valor a sua generosidade, à generosidade a sua modéstia; tu revelavas inauditos mistérios no esforço do morrer: a constância dos teus mártires escurecia a dos nossos guerreiros quando, debaixo do punhal de inimigo vitorioso, recusavam confessar-se vencidos.
Tu convertias o amor, esse afecto delicioso, até então limitado ao gozo material da mulher, em sentimento grande e sublime: alargavas o âmbito do coração por toda a terra, por tudo quanto nela vive e respira, e davas-lhe para conquistar todas as existências dos céus.
A generosidade, o esforço e o amor, ensinaste-os tu em toda a sua sublimidade; só nas almas dos bárbaros estavam eles em gérmen. Não para os Romanos corrompidos, mas para nós, os selvagens setentrionais, era o cristianismo. Para estes o Evangelho assemelhava-se ao Sol que rompe de além das serras e que ilumina, aquece e alegra; para os escravos abjectos dos césares assemelhava-se ao Sol mergulhando-se no mar, que só deixa nos campos escuridão, frialdade e tristeza.