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Omar estava tranquilo, e o ar puro e diáfano. As costas de África fronteiras, lá na extremidade do horizonte, pareciam uma orla escura bordada no manto azul do firmamento.
A aragem do norte encrespava suavemente a superfície das águas; as ondas vinham espraiar-se preguiçosas no areal da baía.
O barqueiro Ranimiro dormia na sua barca amarrada na foz do Palmónio. Uma saudade indizível atraía-me para o mar.
Saltei na barca; o ruído que fiz despertou Ranimiro.
— Ao largo — disse-lhe eu. Empunhou os remos, e partimos.
— Para onde, presbítero? — perguntou o barqueiro, depois de vagar alguns momentos em silêncio.
— Quero respirar o ar puro e fresco da tarde; mais nada — repliquei.
— Leva-me para onde te aprouver.
— Se vos parece — tornou Ranimiro —, rodearemos a Ilha Verde, entraremos no canal, e saltareis na margem. Pelo tempo que vai, ela estará agora esmaltada de verdura e boninas.
Calei-me: o barqueiro tomou por aprovação o meu silêncio. Voltando a proa para poente, corremos ao largo da ilha e, rodeando a sua margem ocidental, abicámos em terra pelo lado da enseada que a separa do continente.