Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 168 / 177

.. - Amigo

Direi, amigo sim: peja-te o nome,

Orgulho do homem vão, por dado ao escravo?

E que és tu mais? - Era de ver, e digno

Espectáculo adonde se cravassem

Os olhos todos dessa raça abjecta

Que se diz de homens, a figura nobre

Do guerreiro, em que toda se debuxa

A altivez, a grandeza, a força d’ânimo,

Com o andrajoso, humilde e pobre escravo

Em atitude tal. Rira-se o mundo;

O homem de bem, de coração, chorara.

XII

- «Oh meu amigo, oh meu António» disse,

No remendado seio a face altiva

Escondendo, o guerreiro. «Oh! esta noite

Aonde, em que poisada a passaremos?»

- «Meu bom senhor, um gasalhado tenho

Achado já; que bem vi que não íeis

Nunca mais ao mosteiro. Digno, certo,

De vós não é; mas sabeis...»

- «Sei, amigo,

Que só tu, neste mísero universo,

- E o sepulcro também - alfim me restam»

XIII

Juntos à margem vão do Tejo andando

A lento passo.





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