.. - Amigo
Direi, amigo sim: peja-te o nome,
Orgulho do homem vão, por dado ao escravo?
E que és tu mais? - Era de ver, e digno
Espectáculo adonde se cravassem
Os olhos todos dessa raça abjecta
Que se diz de homens, a figura nobre
Do guerreiro, em que toda se debuxa
A altivez, a grandeza, a força d’ânimo,
Com o andrajoso, humilde e pobre escravo
Em atitude tal. Rira-se o mundo;
O homem de bem, de coração, chorara.
XII
- «Oh meu amigo, oh meu António» disse,
No remendado seio a face altiva
Escondendo, o guerreiro. «Oh! esta noite
Aonde, em que poisada a passaremos?»
- «Meu bom senhor, um gasalhado tenho
Achado já; que bem vi que não íeis
Nunca mais ao mosteiro. Digno, certo,
De vós não é; mas sabeis...»
- «Sei, amigo,
Que só tu, neste mísero universo,
- E o sepulcro também - alfim me restam»
XIII
Juntos à margem vão do Tejo andando
A lento passo.