Não havia outro remédio para este mal do que cercar o campo; trabalho tanto maior quanto me foi necessário executá-lo aceleradamente. Apesar disso, como o terreno era pequeno, distribuído o grão que tinha semeado, bastaram-me coisa de três semanas para o cercar de uma maneira conveniente. Além disso, tive o cuidado de abrir fogo contra aqueles estranhos saqueadores e de colocar durante a noite o meu cão de sentinela, o qual, pegado à porta, não parava de ladrar. Bem depressa os inimigos evacuaram o local, e o meu grão cresceu muito vigoroso e começou a amadurecer.
Mas se os bichos tinham tentado destruir-me a colheita quando ela ainda era erva, os pássaros estavam dispostos a acercar-se agora que começava a espigar. Um dia em que fui visitar a minha pequena colheita, vi o campo rodeado por uma multidão de pássaros de todas as espécies, que pareciam espiar o momento da minha partida. Fiz fogo sobre eles, pois nunca saía sem a escopeta. Mal o tiro saiu, ergueu-se uma autêntica nuvem de pássaros que, a princípio, não tinha visto porque estavam escondidos mesmo na sementeira.
Aquilo constituiu para mim um espectáculo extremamente doloroso, pois imaginava que em poucos dias destruiriam todas as minhas esperanças, que ia perecer de fome e que jamais chegaria a obter qualquer colheita. Resolvi, portanto, fazer todo o possível para salvar o meu grão, mesmo que tivesse de ficar dia e noite de sentinela, se tanto fosse necessário. Antes de tudo quis reconhecer os danos e verifiquei que, na verdade, bastante grão fora perdido, mas não tanto, mesmo assim; como temera; as espigas ainda estavam verdes para poderem sofrer muito; a perda, pois, não era tamanha que impedisse o resto de me dar uma boa colheita que se pudesse conservar durante tempo suficiente.