Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 203 / 241

Contou-me também que eles possuíam ainda algumas armas, mas que lhes eram completamente inúteis, por falta de pólvora e balas, pois a água estragara as munições, à excepção de uma reduzida quantidade que, desde os primeiros dias do seu desembarque, tinham aproveitado na caça para arranjar algum alimento. Perguntei-lhe se sabia o que eles tencionavam fazer e se não tinham pensado em sair daquela terra. Respondeu que haviam realizado numerosas conferências acerca desse ponto mas que, não dispondo nem de embarcação, nem de ferramenta para construí-la, nem de provisões de qualquer espécie, as suas deliberações finais foram desesperarem-se todos, derramando abundantes lágrimas.

Roguei-lhe que me dissesse como receberiam os seus companheiros a proposta de sair dali que eu lhes fizesse, e se o meu projecto poderia executar-se, conduzindo-os todos para a minha ilha.

- Francamente - acrescentei -, receio alguma traição ou perfídia da parte deles, uma vez que tenham a minha vida entre as suas mãos, pois o agradecimento não é uma virtude inerente à natureza humana; os homens medem habitualmente menos a sua conduta pelos favores recebidos do que pelas vantagens que podem esperar deles. Seria uma coisa muito cruel para mim se, depois de ter sido o instrumento da sua liberdade, me levassem prisioneiro para Nova Espanha, onde qualquer inglês está certo de ser sacrificado, sejam quais forem os motivos que lá o conduzam.

Disse ainda que, por outro lado, estava convicto de que, trazendo-os para a minha ilha, construiria com a sua ajuda uma embarcação bastante grande para nos conduzir a todos, quer ao Brasil, quer para sul, quer para as Ilhas ou para a costa espanhola, ou ainda para norte; mas que como recompensa, após lhes ter dado armas, poderiam levar-me à força para as suas colónias, onde eu era capaz de não ser bem tratado e ver, assim, agravada a minha situação.





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